Thursday, November 15, 2012

O Marinheiro


“Toda hora é materna para os sonhos, mas é preciso não o saber. . . Quando falo demais começo a separar-me de mim e a ouvir-me falar. Isso faz com que me compadeça de mim própria e sinta demasiadamente o coração. Tenho então uma vontade lacrimosa de o ter nos braços para o poder embalar como a um filho. . . O dia nunca raia para quem encosta a cabeça no seio das horas sonhadas” (Fernando Pessoa, O Marinheiro, 119).

Existe nesta peça de Fernando Pessoa uma tristeza intensa. Um senso de nostalgia profunda permeia o texto. Num caixão no centro no palco jaz uma donzela branca. Ela ocupa o espaço central do palco, mas a presença dela nunca é explicada. Mas a morte e a existência formam o argumento central da peça. A donzela morta representa os medos e as incertezas que estas três irmãs estão enfrentando. A existência além da morte parece difícil de aceitar quando nem tem certeza da existência na vida.

Este trecho contém uma ideia fundamental do texto. O dia nunca acaba nem começa para aqueles que vivem nos sonhos. Eu acho que as tristezas da vida levaram estas três mulheres a buscar alívio nos sonhos. Tanto elas viveram nos sonhos que nem sabem o que é sonho e o que é realidade. A realidade começou a perder seu significado. Recentemente eu assisti a um filme que se tratou dos antros de ópio do século XIX. Os sonhos que o ópio causou muitas vezes eram preferíveis à realidade para as pessoas. Então os viciados saíram da realidade para viver nesses sonhos. É interesante que, ao mesmo tempo que estas donzelas temem morrer, elas também temem viver.

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