“Toda hora é
materna para os sonhos, mas é preciso não o saber. . . Quando
falo demais começo a separar-me de mim e a ouvir-me falar. Isso faz
com que me compadeça de mim própria e sinta demasiadamente o coração.
Tenho então uma vontade lacrimosa de o ter nos braços para o poder embalar
como a um filho. . . O dia nunca raia para quem encosta a cabeça no
seio das horas sonhadas” (Fernando Pessoa, O Marinheiro, 119).
Existe nesta peça de
Fernando Pessoa uma tristeza intensa. Um senso de nostalgia profunda permeia o
texto. Num caixão no centro no palco jaz uma donzela branca. Ela
ocupa o espaço central do palco, mas a presença dela
nunca é explicada. Mas a morte e a existência formam o argumento central da peça. A
donzela morta representa os medos e as incertezas que estas três irmãs estão
enfrentando. A existência além da morte parece difícil de aceitar quando nem tem certeza da existência na vida.
Este trecho contém uma
ideia fundamental do texto. O dia nunca acaba nem começa para aqueles que vivem
nos sonhos. Eu acho que as tristezas da vida levaram estas três mulheres a
buscar alívio nos sonhos. Tanto elas viveram nos sonhos que nem sabem o que é
sonho e o que é realidade. A realidade começou a perder seu significado. Recentemente
eu assisti a um filme que se tratou dos antros de ópio do século XIX. Os sonhos
que o ópio causou muitas vezes eram preferíveis à realidade para as pessoas.
Então os viciados saíram da realidade para viver nesses sonhos. É interesante
que, ao mesmo tempo que estas donzelas temem morrer, elas também temem viver.
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