“Ó poesia
sonhei que fosses tudo
E eis-me na
orla vão abandonada
Uma por uma
as ondas sem defeito
Quebram o
seu colo azul de espuma
E é como se
um poema fosse nada”
(Sophia de Mello Breyner Andresen, [sem título], 218).
Eu adoro
este poema. O mar é tudo para Sophia de Mello Breyner Andresen. Simboliza tantas coisas—a criação entre
elas. Neste poema o mar também simboliza um tipo de abandono. Na orla, a mulher (imagino que é mulher) é
deixada entre a beira da terra e da água. “Terra de ninguém é onde eu vivo”, Sophia escreveu em um outro poema. Aqui as circunstâncias têm deixado o narrador em terra de ninguém. As ondas que ela fita vão rolando ‘sem defeito’, perfeitas
no seu movimento. E ela, deixada sem rumo, até perde o consolo que a poesia lhe
trazia. Para ela, imagino que a poesia dever significar a expressão de emoção
forte e a renovação ao expressá-la. Mas, solitária na orla, ‘é como se um poema
fosse nada” em comparação com os sentimentos com as quais ela está lutando. Ela também poderia estar dizendo que a poesia é nada em comparação com o mar, eterno e belo.
A poesia de
Sophia de Mello Breyner Andresen tem um tipo de nostalgia. Ao ler, quase me parece
que eu já li em algum lugar, talvez quando era criança. Eu acho que tenho este
sentimento porque ela consegue transmitir tão perfeitamente emoções profundas
que são universais na geografia e no tempo. É
como se fosse
redescobrindo a sua própria natureza nas páginas.
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