“Recife . . .
Rua da
União . . .
A
casa de meu avô . . .
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife . . .
Meu avô
morto.”
(Manuel Bandeira, de “Evocação do Recife”, 228)
Manuel Bandeira usa muita reticência (aqui indicada pelo uso da elipse)
no seu poema “Evocação do Recife”. Este trecho do fim do poema é um de meus
prediletos. O poema inteiro é saturado pela nostagia, e esta parte mais do que
qualquer outra. Sugerindo com as elipses que existem coisas que nem dá para
explicar, o poeta liga Recife com a casa de seu avô, a quem ele aparentemente
amava, e explica como parecia que tudo nunca ia acabar. E em vez de dizer,
“Porém, acabou”, ele nos transmite esta mensagem com a frase final: “Meu avô
morto”. Sentimos a tristeza do poeta, e entendemos que ele também está falando
da morte de algo além do avô: a morte de seu amado Recife como ele conhecia.
Eu gostei da evocação de som no poema. Ele cria espaço branco dentro da
frase, “De repente nos longes noites um sino”, como se fosse realmente um sino
repicando. Cria as vozes do passado nas brincadeiras e canções das crianças.
Até a palavra “Capibaribe” repetida várias vezes no poema cria uma atmosfera de
música feliz, quase como uma frase mágica que vai trazer de volta tudo que foi
perdido e aliviar aquela nostalgia profunda.
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